Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo convida-nos a tomar consciência de quanto é exigente o caminho do “Reino”. Optar pelo “Reino” não é escolher um caminho de facilidade, mas sim aceitar percorrer um caminho de renúncia e de dom da vida.
A primeira leitura lembra a todos aqueles que não conseguem decidir-se pelo “Reino” que só em Deus é possível encontrar a verdadeira felicidade e o sentido da vida. Há, portanto, aí, um encorajamento implícito a aderir ao “Reino”: embora exigente, é um caminho que leva à felicidade plena.
Face ao contínuo cruzamento de perspectivas, de desafios, de teorias, ficamos confusos e sem saber, tantas vezes, como escolher. Para os que crêem, o critério que serve para julgar a validade ou a não validade dessas propostas é o Evangelho – embora, muitas vezes, ele se apresente em absoluta contradição com os valores que a sociedade propõe e impõe.
Assim, só a sabedoria que é um dom de Deus permite a pessoa compreender tudo, fazer o que agrada a Deus e ser salvo. Portanto, só a ação de Deus que derrama sobre todos (as) a “sabedoria” permite encontrar o sentido da vida.
A segunda leitura recorda que o amor é o valor fundamental, para todos os que aceitam a dinâmica do “Reino”; só ele permite descobrir a igualdade de todos (as), filhos (as) do mesmo Pai e irmãos/irmãs em Cristo. Aceitar viver na lógica do “Reino” é reconhecer em cada pessoa um (a) irmão/irmã e agir em favor desta premissa.
O amor – elemento que está no centro da experiência cristã – exige ao cristão o reconhecimento efetivo da igualdade de todas as pessoas, apesar das diferenças de cor da pele, de estatuto social, de sexo, de opções políticas. Exige ainda, que as nossas comunidades sejam espaços de comunhão, fraternidade e acolhimento
O Evangelho que traça as coordenadas do “caminho do discípulo”: é um caminho em que o “Reino” deve ter a primazia sobre as pessoas que amamos, sobre os nossos bens, sobre os nossos próprios interesses e esquemas pessoais. Quem tomar contacto com esta proposta tem de pensar seriamente se a quer acolher, se tem forças para acolhê-la… Jesus não admite meios-termos: ou se aceita o “Reino” e se embarca nessa aventura a tempo inteiro e “a fundo perdido”, ou não vale a pena começar algo que não vai levar a lado nenhum. Porque não é um caminho que se percorra com hesitações e com “meias tintas.
Assim, Jesus vai apresentar algumas exigências e ensinamentos que devem cumprir todos aqueles que entram no “banquete do Reino”, sob a condição dos discípulos, predominando o tema da renúncia. Quais são então, na perspectiva de Jesus, as exigências fundamentais para quem quer seguir o “caminho do discípulo” e chegar a sentar-se à mesa do “Reino”? Jesus põe três exigências, todas elas subordinadas ao tema da renúncia.
A primeira exige o preferir Jesus à própria família. Jesus exige que as relações familiares não nos impeçam de aderir ao “Reino”. Se for necessário escolher, a prioridade deve ser do “Reino”.
A segunda exige a renúncia à própria vida. O discípulo de Jesus não pode viver a fazer opções egoístas, colocando em primeiro lugar os seus interesses, os seus esquemas, aquilo que é melhor para ele; mas tem de colocar a sua vida ao serviço do “Reino” e fazer da sua vida um dom de amor aos irmãos, se necessário até a morte. Foi esse, de fato, o caminho de Jesus; e o discípulo é convidado a imitar o mestre.
A terceira exige a renúncia aos bens. Jesus sabe que os bens podem facilmente transformar-se em deuses, tornando-se uma prioridade, escravizando o homem e a mulher e levando-o a viver em função deles; assim sendo, que espaço fica para o “Reino”? Por outro lado, dar prioridade aos bens significa viver de forma egoísta, esquecendo as necessidades dos irmãos; ora, viver na dinâmica do “Reino” implica viver no amor e deixar que a vida seja dirigida por uma lógica de amor e de partilha… Pode, então, viver-se no “Reino” sem renunciar aos bens?
Com este rol de exigências, fica claro que a opção pelo “Reino” não é um caminho de facilidade e, por isso, talvez não seja um caminho que todos aceitem seguir. É por isso que Jesus recomenda o pesar bem às implicações e as conseqüências da opção pelo “Reino”. A parábola do homem que, antes de construir uma torre, pensa se tem com que terminá-la e a parábola do rei que, antes de partir para a guerra, pensa se pode opor-se a outro rei com forças superiores convidam os candidatos a discípulos tomar consciência da sua força, da sua vontade, da sua decisão em corresponder aos desafios do Evangelho e em assumir, com radicalidade, as exigências do “Reino”.
Irmãos e irmãs, Jesus não é um demagogo que faz promessas fáceis e cuja preocupação é juntar adeptos ou atrair multidões a qualquer preço. Ele é o Deus que veio ao nosso encontro com uma proposta de salvação, de vida plena; no entanto, essa proposta implica uma adesão séria, exigente, radical. O caminho que Jesus propõe não é um caminho de “massas”, mas um caminho de “discípulos”: implica uma adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à sua lógica; e isso não é para todos, mas apenas para os discípulos que fazem séria e conscientemente essa opção.
Às vezes, as pessoas procuram a comunidade cristã por tradição, por influências do meio social ou familiar… Sem recusarmos nada, devemos, contudo, fazê-las perceber que a opção pelo batismo é uma opção séria e exigente, que só faz sentido no quadro de um compromisso com o “Reino” e com a proposta de Jesus.
Vimos que dentro do quadro de exigências que Jesus apresenta aos discípulos, sobressai a exigência de preferir Jesus à própria família. Isso não significa, evidentemente, que devamos rejeitar os laços que nos unem àqueles que amamos… No entanto, significa que os laços afetivos, por mais sagrados que sejam, não devem afastar-nos dos valores do “Reino”. Outra exigência que Jesus faz aos discípulos é a renúncia à própria vida e o tomar a cruz do amor, do serviço, do dom da vida. Uma terceira exigência de Jesus pede aos candidatos a discípulos a renúncia aos bens.
Assim, Jesus quer dizer que, antes de segui-lo, é preciso reservar tempo para a reflexão. Jesus não esconde as exigências, mas é preciso perguntar por que O seguimos, até onde O podemos seguir. É a maneira de Jesus respeitar a liberdade. Ele não quer discípulos que decidem segui-l’O sem mais nem menos. Ele não pede a mesma coisa a toda a gente, mas a cada um Ele pede para segui-l’O em função dos seus carismas. Então, a palavra de hoje é-nos dada para nos despertar e, ao mesmo tempo, para nos encorajar. Aqueles que, apesar de tudo e contra tudo, continuam a dar um lugar importante na sua vida a Jesus, têm razão. O Evangelho de hoje é um convite urgente a mantermos a nossa fé, por mais que isso custe! Pois, “Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo”. Assim seja! Amém.