Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo leva-nos a refletir sobre a
nossa vocação: somos todos chamados por Deus e d’Ele recebemos uma missão para
o mundo.
Na primeira leitura, encontramos a descrição
plástica do chamamento de um profeta – Isaías. De uma forma simples e
questionadora, apresenta-se o modelo de um homem que é sensível aos apelos de
Deus e que tem a coragem de aceitar ser enviado. Assim, Isaías deixa claro que
a sua vocação é obra de Javé, o Deus majestoso e santo, infinitamente acima do
mundo e distante da realidade pecadora em que os homens vivem mergulhados.
Todavia, a objeção do profeta é um elemento típico dos relatos de vocação, manifesta
o sentimento de um homem que, chamado por Deus a uma missão, tem consciência
dos seus limites e da sua indignidade, ou prefere continuar no seu cantinho
cómodo, sem se comprometer. E a “purificação” sugere que a indignidade e a
limitação não são impeditivos para a missão: a eleição divina dá ao profeta
autoridade, apesar dos seus limites bem humanos.
Desta forma,
Posteriormente, temos a aceitação da missão pelo profeta. Convém, a
propósito, notar o seguinte: Isaías oferece-se sem saber ainda qual a missão
que lhe vai ser confiada; manifesta, dessa forma, a sua disponibilidade
absoluta para o serviço de Deus. Temos, aqui, descrito o caminho da verdadeira
vocação.
A segunda leitura propõe-nos refletir sobre a
ressurreição: trata-se de uma realidade que deve dar forma à vida do discípulo
e levá-lo a enfrentar sem medo as forças da injustiça e da morte. Com a sua ação
libertadora – que continua a ação de Jesus e que renova os homens e o mundo – o
discípulo sabe que está a dar testemunho da ressurreição de Cristo. A
argumentação de Paulo é simples e contundente: nós, cristãos, ressuscitaremos
um dia, porque Cristo já ressuscitou.
Além do mais, a ressurreição é um fato que ocorreu,
mas que continua a ocorrer; continua a ter a eficácia primitiva, continua a ser
capaz de converter em homens novos, a quantos aceitam Jesus pela fé. A
comunidade cristã é convidada a fazer esta descoberta, a partir das Escrituras,
do Espírito e da própria vida nova que continuamente vai nascendo nos cristãos.
No Evangelho, Lucas apresenta um grupo de
discípulos que partilharam a barca com Jesus, que acolheram as propostas de
Jesus, que souberam reconhecê-l’O como seu “Senhor”, que aceitaram o convite
para sermos “pescadores de homens” e que deixaram tudo para seguir Jesus… Neste
quadro, reconhecemos o caminho que os cristãos são chamados a percorrer.
O texto que nos é proposto como Evangelho é uma
catequese que procura apresentar as coordenadas fundamentais da identidade
cristã: o que é ser cristão? Como se segue Jesus? O que é que implica seguir
Jesus?
Ser cristão é, em primeiro lugar, estar com Jesus “no
mesmo barco”. É desse barco, a comunidade cristã, que a Palavra de Jesus se
dirige ao mundo, propondo a todos a libertação
- “pôs-Se a ensinar, da barca, a multidão”.
Ser cristão é ainda, escutar a proposta de Jesus,
fazer o que Ele diz, cumprir as suas indicações, lançar as redes ao mar. Às
vezes, as propostas de Jesus podem parecer ilógicas, incoerentes, ridículas e
quantas vezes o parecem, face aos esquemas e valores do mundo…; mas é preciso
confiar incondicionalmente, entregar-se nas mãos d’Ele e cumprir à risca as
suas indicações, “porque Tu o dizes, lançarei as redes”.
Ser cristão é reconhecer Jesus como “o Senhor”: é o
que faz Pedro, ao perceber como a proposta de Jesus gera vida e fecundidade
para todos. O título de “Senhor” é o que a comunidade cristã primitiva dá a
Jesus ressuscitado, reconhecendo n’Ele o “Senhor” que preside ao mundo e à
história.
Ser cristão é aceitar a missão que Jesus propõe: ser
pescador de homens. Para entendermos o verdadeiro significado da expressão,
temos de recordar o que significava o “mar” no ideário judaico: era o lugar dos
monstros, onde residiam os espíritos e as forças demoníacas que procuravam
roubar a vida e a felicidade do homem. Dizer que os seus discípulos vão ser “pescadores
de homens” significa que a missão do cristão é continuar a obra libertadora de
Jesus em favor de homens e mulheres, procurando libertar o homem de tudo aquilo
que lhe rouba a vida e a felicidade. Trata-se de salvar o homem de morrer
afogado no mar da opressão, do egoísmo, do sofrimento, do medo – as forças do
mal que impedem nossa felicidade.
Ser cristão é, finalmente, deixar tudo e seguir Jesus.
Esta alusão ao desprendimento do discípulo expressa que a generosidade e o dom
total devem ser sinais distintivos das comunidades e dos crentes que seguem
Jesus. Que a exemplo de Cristo, sejamos pescadores, anunciadores do reino,
avançando em águas profundas. Assim seja! Amém
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